Você já passou por isso: em uma noite pra lá de quente, sentado confortavelmente em seu sofá, começa a notar insetos alados, parecidos com formigas, que surgem do nada e voam em direção à luz. E, se você não fechar as janelas, mesmo sendo uma noite insuportável de calor, o “enxame” não vai parar de crescer.

Depois de um tempo os bichinhos alados caem no chão, perdem as asas e somem. Fim da história. Pois bem, esse é o fim de apenas um capítulo, porque o próximo pode relatar uma infestação de cupins na sua casa. Isso mesmo. As tais “formigas aladas”, “aleluias” ou “siriris”, são nada menos que insaciáveis cupins.   

        

 Pertencentes à ordem dos isópteros, esses insetos xilófagos (que comem madeira) são  considerados pragas urbanas – ao lado de baratas, formigas, ratos e pulgas - e, como tais,  devem ser combatidos. No entanto, de acordo com o pesquisador Luiz Roberto Fontes,  biólogo e consultor especializado em cupins, fora da cidade a maioria desses bichinhos  exerce ação benéfica ao ambiente, em especial no solo, tornando-o mais macio, aerado, rico  em matéria orgânica e facilitando a penetração e drenagem da água. “São imprescindíveis  para a recuperação dos solos degradados, mas se tornam pragas nas cidades, pois são  muito destrutivos”, explica.

Dentre as duas mil espécies existentes no mundo, cerca de 20 podem ser identificadas e encontradas nos grandes centros urbanos, e duas delas se destacam pelo volume dos danos econômicos causados às edificações e seus interiores. São os cupins de madeira seca, da espécie Cryptotermes brevis, e os subterrâneos, conhecidos como Coptotermes gestroi.

 Como o próprio nome já diz, os cupins de madeira seca vivem dentro da própria estrutura  que consomem como alimento, enquanto os subterrâneos transitam livremente pelo solo, em  uma busca ativa por comida, invadindo prédios, casas e atacando a vegetação urbana.

 As colônias de cupins são extremamente insidiosas. Você pode ter ninhos e mais ninhos em  sua casa e simplesmente não saber, até que um dia, limpando o fundo de seu armário sua  mão acaba atravessando a madeira, fina como papel.

 Reconhecer o ataque costuma ser muito difícil, pois os sinais iniciais, não raro, são pouco  perceptíveis pelo leigo. “Mesmo infestações mais avançadas podem mostrar poucos sinais  da presença dos cupins e, por muito tempo.

Cupins de madeira seca

Esses insetos constroem seus ninhos dentro de pedaços de madeira, (móveis, armários embutidos, peças estruturais como madeiramento de telhado, forros, etc.), mas por serem limpos e proverem espaço para a colônia, eliminam suas fezes fora das peças, na forma de dejetos alongados, com cerca de 0,8 mm, com seis depressões sensíveis.

 “Depois da eliminação dos grânulos fecais, os orifícios abertos na madeira são fechados”, explica Sayegh. De acordo com o bioquímico, é importante não confundir as fezes dos cupins com as de outros xilófagos - como as brocas de madeira - que eliminam dejetos com textura próxima a pó. “A presença dos grânulos fecais dos cupins são um dos poucos sinais que avisam que a superfície está sendo atacada”, ensina.

As estruturas podem abrigar várias colônias com centenas de indivíduos e chegar a um estado de infestação tão alto que só sobra uma leve casca do material, simples elemento de proteção aos insetos.

Cupins subterrâneos

Na sua maioria, as colônias dos cupins subterrâneos são constituídas por ninhos volumosos estruturados por material cartonado (fezes, partículas do solo e saliva), com dezenas a centenas de milhares de indivíduos. Grande parte desses ninhos são localizados sob o solo ou em espaços confinados como lajes duplas, lajes invertidas de banheiro, espaços na alvenaria, shafts etc. “Devido ao tamanho da colônia, estes cupins são muito ativos e agressivos na sua busca por alimento”, atacam toda madeira que esteja em contato com a alvenaria, como batentes, rodapés, armários embutidos, pisos de madeira (tacos, assoalhos, carpetes etc.), além do mobiliário. Segundo o farmacêutico bioquímico, possuem uma capacidade ímpar de locomoção por frestas e rachaduras no concreto e na alvenaria de tijolos e de blocos: “uma simples fissura no contra piso torna-se porta de entrada para estes insetos”, explica.

O principal sinal do ataque desses cupins são os chamados tuneis de comunicação. Para passar de um local a outro os operários fazem túneis no solo, mas muitas vezes se deparam com locais abertos e precisam continuar sua busca por alimento. Como temem a luz (somente os alados voam em direção a ela) começam a construir galerias de comunicação fora do solo, com fezes e partículas de terra cimentadas com saliva. “Esses longos túneis os protegem do ataque de inimigos naturais e da perda de umidade”.

O problema é muitas vezes esses caminhos de terra estão muito bem camuflados em juntas de dilatação, rachaduras, cabos elétricos e telefônicos, frestas de instalações hidráulicas ou de ar condicionado e prumadas de esgoto típicas de prédios.

Guarnições e rodapés ficam ocos, sendo possível se deparar com dezenas a centenas de insetos que saem pelo local “machucado”. Após a manipulação das estruturas, é possível identificar superfícies lisas, com pontilhados escuros de fezes, ou porções difusas, construídas com excrementos e saliva, como um verdadeiro labirinto tridimensional.